Wednesday, March 22, 2006

A Intrangesência

Numa determinada circunstância, um outrora muito influente político nacional, usou a seguinte linha de retórica no seu ressurgimento ao panorama presidencial: "…Não se esqueçam que se vocês não se interessarem pela política, os vossos políticos não se interessam realmente pelo desenvolvimento do país, sendo que o meu regresso surge por achar que falta a este mesmo país alguém que se preocupe por ele. Não acreditem que não podem confiar nos vossos políticos, acreditem sim, que apesar de quem diz que a política é um mal, isso surge pela experiência que vocês têm das políticas da direita, acreditem isso sim, que existem aqueles que se preocupam com o bem estar do próximo e existem aqueles que se preocupam com o seu próprio bem estar e o das suas famílias. Metam isso na cabeça. O socialismo é isso, o bem estar do próximo…"; O discurso fluiu todo ele de uma forma natural e politicamente correcta, não pelo conteúdo, mas sim pela técnica. Estava ali, à vista de todos os que se dessem ao trabalho de perder um bocadinho mais de tempo a analisar, a forma de trabalhar de um político profissional. O problema é que me deparei com uma questão ideológica, sendo que o meu dilema, não foi de todo o discurso, nem a técnica nem sequer a suposta ideia de prever o meu fragilizado país governado mais uma vez pelo mesmo protagonista. E apesar de ser jovem, a crise económica, as guerras verbais e as demagogias não eram nenhuma novidade, e até voltar a ver este político no poder era um regresso nostálgico à puberdade. Já o tinha acompanhado como primeiro-ministro, e como presidente da república. Numa função lastimável, na outra louvável. Toda a questão ideológica surgiu do pequeno pormenor de olhar para um homem por quem nutro uma relativa admiração e ver nele um discurso e linguagem corporal vincada com ideologias inabaláveis, e reparei que apesar de toda o seu discurso assentar em ideias antiquadas, pelo menos para o que eu acredito ser uma sociedade moderna, eu nunca lhe poderia fazer entender isso mesmo, nem que me dessem a hipótese de lhe explicar cara a cara. O que me fez ver neste homem brilhante o seu primeiro sinal de ignorância, o sinal da intransigência.